terça-feira, 5 de maio de 2009

MUSEU ABRIGA UMA GRANDE HERANÇA CULTURAL

MUSEU DO FORTE DO PRESÉPIO conta com uma grande variedade de objetos e informações do período que antecedeu a colonização da região amazônica e após a chegada dos colonizadores.


Por Vanessa Dantas
O Forte do Presépio tem sua origem junto à fundação da cidade de Belém no século XVII. No entanto, após inúmeras reformas e finalidades, foi transformado em museu em 2002. Em sua área externa chamada de “Sítio Histórico da Fundação da Cidade” encontram-se instrumentos de guerra como canhões, pertencentes a diversos períodos do forte. Já em sua área interna, denominada museu do Encontro na sala Guaimiaba, pode-se observar uma exposição de objetos pertencentes aos habitantes da fase pré – colonial, assim como artefatos dos colonizadores europeus.
O museu é recheado de informações junto às exposições, tal qual a respeito da colonização da Amazônia. Na sala Guaimiaba, local onde fora encontrado durante o período de restauração fragmentos de cerâmica, porcelana, balas e moedas, há a presença de peças artesanais encontradas em outros locais da região e levadas ao museu, como vasos e urnas de cerâmica, utilizadas para uso pessoal, festas religiosas e em rituais funerários, produzidas pelas sociedades da Amazônia pré-colonial Marajoara, Tupinambá, Tapajônicas como uma forma de expressão cultural. Pode ser observados também objetos de uso pessoal, sendo estes cachimbo, moedas e broches e armamento militar pertencentes aos colonizadores portugueses da Amazônia.
Área interna no museu do encontro, na sala Guaimiaba, com objetos de cerâmica, utilizados e produzidos por sociedades passadas.

CULTURA MARAJOARA

CULTURA MARAJOARA Uma herança cultural das sociedades mais representativas na história da Amazônia.

O museu do Forte do Presépio abriga uma riqueza de objetos culturais das diversas sociedades amazônicas que existiram. Uma das mais conhecidas e que possuíram e ainda possuem grande relevância é a cultura Marajoara. Tendo sua origem e ocupação na Ilha do Marajó entre os séculos V e XVI, essas sociedades aglomeravam-se no centro da ilha, ao longo dos rios principais, em sítios conhecidos como tesos, onde eram erguidas as aldeias, às vezes plantados plantas de uso do cotidiano e onde eram enterradas as urnas funerárias. As populações estabeleciam contatos uns com os outros e realizavam trocas de matérias – primas e bens variados, tais como pedras raras, produtos animais e vegetais.

BELAS E SOFISTICADAS - A produção mais interessante, bem elaborada, sofisticada, com grande influência cultural e prestígio inestimável quanto ao valor artístico da cultura Marajoara, foi a cerâmica. Sendo um produto muito importante e representativo para estas sociedades, eram confeccionadas por variados motivos, com rica simbologia e formas delineadas. Os marajoaras desenvolveram ideogramas decorativos que se combinavam e repetiam. Com narrativas gravadas na cerâmica referentes à cosmogonia marajoara, eles marcavam nas mesmas, animais como lagarto, escorpião, serpentes e simbologias femininas. Já a cerâmica ritualística, que foi caracterizada como objeto cerimonial produzido pelas sociedades marajoaras, contava com formas e decoração muito bem elaboradas, utilizando pintura preta e vermelha sobre fundo branco, bordas ocas, modelagem, incisão e excisão.

UNIVERSO FEMININO – Nas sociedades marajoaras, houve muitas participações de mulheres em atividades. Em algumas culturas amazônicas, a produção da cerâmica era o papel das mulheres, sendo reservado a elas a presença nas cerimônias realizadas no processo de pré-queima e queima das peças confeccionadas. Há também a colaboração das mulheres marajoaras no preparo de vários tipos de comidas derivadas da mandioca, sendo que a produção regular destes produtos provavelmente pode ter fortalecido a economia de muitas sociedades onde o número de habitantes era maior. Além do mais, a presença constante de simbologias femininas em peças como as urnas funerárias, leva a crer que a mulher tinha um papel de suma importância nestas sociedades, principalmente no que diz respeito às tradições religiosas marajoaras.

ASCENSÃO E QUEDA – Ocorreram em um período da cultura Marajoara, diversas mudanças na estrutura destas sociedades. Este momento é conhecido como a Fase Marajoara, em que os tesos são levantados e as urnas, hoje muito conhecidas, são criadas. No entanto, por mais que as estruturas econômicas e políticas estivem intactas, uma forte influência religiosa estava abatendo as sociedades marajoaras. Esta situação ocasionou a centralização do poder e conseqüente força do trabalho social a favor da elite religiosa, que habitavam os tesos maiores e comandavam os rituais e as cerimônias funerárias. E 300 anos antes da chegada dos europeus a estrutura sociopolítica dos marajoaras entra em um estado de declínio, podendo ter como motivo uma forte seca que abateu a região amazônica.

HERANÇA - Estas sociedades deixaram uma grande herança cultural à população. Sendo aperfeiçoadas e reproduzidas com as mesmas características até hoje, as cópias da cerâmica Marajoara com suas formas, decorações e cores sustentam uma população de oleiros no estado do Pará. Além do mais, estes objetos refinados, bem elaborados e com um significado importante, pertencente à nossa história, abrilhantam as residências e comércios na sociedade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário